LUME: Uma trajetória
Em 2017, o Relatório da Comissão Estadual da Verdade - Teresa Urban trouxe à tona parte da história do Estado do Paraná durante os anos do regime militar brasileiro, entre 1964 e 1985. O texto foi fruto de oitivas e pesquisas realizadas por toda a extensão do Estado, contando com a colaboração de diversos pesquisadores envolvidos com o tema, além das instâncias públicas, como o Ministério Público e o Tribunal de Justiça. Em atitude histórica, uma série de recomendações foram propostas, derivadas da análise do material coletado, considerando especialmente a memória dos atingidos pela ditadura militar brasileira. Neste sentido, a preservação e divulgação da memória foi uma das ações reparativas que compuseram os direcionamentos. O LUME: Lugar de Memória cumpre com a meta de criar um espaço no Centro Judiciário de Curitiba, dedicado à memória dos anos de repressão e resistência, incluindo os atores ligados à advocacia, ao Ministério Público e à magistratura, como as pessoas da sociedade civil, perseguidos e mortos pelo vil sistema autoritário.
Escolha da sala que sediaria o LUME. Ao fundo, fachada do Centro Judiciário em obras, preservando traços da Penitenciária do Ahú. Da esquerda para a direita: José Luiz Leite (DEA-TJPR), Narciso Pires (ex-preso político), Dr. Olympio de Sá Sotto Maior Neto (Procurador do MPPR), Claudia Cristina Hoffmann (Historiadora e Coordenadora do LUME), Dra. Ivete Caribé (Coordenadora do CEMVEJ), Daniel Godoy (membro da CEV), Des. Maria Aparecida Blanco (Desembargadora do TJPR), Paulo Rolando de Lima (Arquiteto-UTFPR), Andréa Godoy e Alexandre Arns (Engenheiro do TJPR).
Diferentemente de um museu, o espaço constitui um Lugar de Memória. De acordo com o Dicionário Temático de Patrimônio (2020), lugares de memória estão "ligados às políticas de memória e às leis memoriais" e "buscam evitar a ocultação dos fatos e a desacreditação das vítimas, esclarecendo as sociedades sobre seu passado recente. A memória da dor assume uma dimensão ampla de conhecimento, convidando à perplexidade e à possível empatia: a dor de um é a dor de todos" (p. 247).
O LUME já faz parte da Rede Brasileira de Lugares de Memória - REBRALUME, compondo um grupo junto de espaços como Memorial da Resistência de São Paulo, Ocupa DOPS/RJ, Núcleo de Preservação da Memória Política, Centro de Memória Frei Tito de Alencar Lima (Ceará). A REBRALUME formou-se da iniciativa do Núcleo de Memória, que visou atingir a preservação da memória das lutas políticas no país.
Seguindo tal perspectiva, o Lugar de Memória em Curitiba está caminhando para compor a Red Latinoamericana de Sitios de Memoria - RESLAC, que reúne lugares de memória de toda a América Latina e Caribe. As instituições que formam tal agrupamento recuperam e constroem memórias coletivas acerca das violações de direitos humanos e da resistência a tais crimes. São parte da RESLAC os lugares de memória localizados na Argentina (Archivo Provincial de la Memoria de Córdoba; Centro Cultural por la Memoria de Trelew; Faro de la Memoria; Museo de la Memoria de Rosario; Museo Internacional para la Democracia), Bolívia (Asociación de familiares de detenidos desaparecidos y mártires por la liberación nacional), Chile (Corporación Parque Por la Paz Villa Grimaldi), Peru (Asociación nacional de familiares secuestrados, detenidos y desaparecidos del Perú), Colômbia, Guatemala, México, entre outros.